Trocentas vezes, mais uma
Era 1988. Eu tinha 14 anos, e morava numa cidade com dois cinemas. Filha de pai cinéfilo que na era pré-Internet tinha atravessadores de filmes piratas, assisti em primeira mão numa cópia quase boa ao filme que o Rob Reiner fez depois de Conta Comigo: The Princess Bride. Sim, crianças, no século passado, os filmes que saíam nos Estados Unidos levavam quase um ano para chegar ao Brasil no cinema e quase dois anos para saírem em fita "selada". Às vezes, nem passavam no cinema e nem saíam em vídeo.
Era uma desgraça. Ainda mais para quem, como eu, comprava TODOS os meses as Premiere francesa e americana (com dois meses de atraso em relação ao lançamento no país de origem, bien entendu) na esperança de um dia gritar "shazam", virar a Ana Maria Bahiana e ir morar em Los Angeles (com a diferença que eu não casaria com o José Emilio Rondeau, mas com o John Cusack, porque SÓ EU, no mundo adolescente do meu tempo, preferia ele ao Tom Cruise – e sabia que ele tinha feito The Sure Thing e Conta Comigo, do mesmo Rob Reiner ali de cima).
Enfim, eis que desde que tinha lido sobre o filme numa das revistas, fiquei azucrinando o pai para consegui-lo. E valeu a pena. O filme é FOFO. Lembro como se fosse hoje de estar na casa da Leticia vendo um jogo de vôlei do Brasil nas Olimpíadas (de manhã cedo, um horror) quando decretei: "Encontrei um cara mais lindo do que o Randy (*)!!!" Era o Cary Elwes, outra aposta FURADAÇA da dupla que ficava no meio das aulas de inglês da oitava série fazendo rap com a fala "Hello, my name is Inigo Montoya, you killed my father, prepare to die". SIM! Nós duas vimos o tal filme trocentas vezes e decoramos TODAS as falas!!!
Tudo isso pra dizer que hoje eu dei um grito quando vi o filme em DVD na locadora e despachei o Márcio pro escritório pra poder vê-lo em paz pela trocentésima primeira vez – e recitar as falas em voz baixa, pra ninguém ver. Sem falar na trilha do Mark Knopfler que é muito bacana. Deu saudade daquele tempo. E, ao contrário do que aconteceu quando revi Dirty Dancing num Telecine qualquer há umas semanas, não fiquei com vergonha de ter gostado do filme. O danado é bonitinho que só ele, bem-humorado, bem sacado, bem feito.
Anyways, mais de um ano depois de decorar todas as falas e ler e reler o livro do roteiro do William Goldman (que foi o roteirista do Butch Cassidy & Sundance Kid), O Noivo da Princesa, eu fui ao cinema assistir a Harry & Sally, que veio a ser o filme que selou o meu romance com o Márcio – ambos sabíamos os diálogos de cor –, acabando assim com as chances do John Cusack e com a minha carreira de Ana Maria Bahiana.
* Randall Batinkoff, um dia talvez eu conte esta história.
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