sexta-feira, fevereiro 04, 2005

Não basta viajar...

... tem que saber contar.

Era hora do rush no metrô.

(Parênteses: não, não vou contar a
história dos pobres passageiros sendo empurrados por guardas de luvas brancas para dentro do vagão entupido de gente. Segundo minhas fontes, as TVs normalmente filmam essa cena na estação Shinjuku – a mais movimentada da cidade – às 8 e meia da manhã, quando o rush matinal está nos píncaros do cúmulo do auge. Em cinco dias pegando o metrô direto, não vi nada remotamente parecido. Posso inclusive testemunhar perante o júri que quase sempre consegui me sentar – pelo menos em algum trecho. Fecha parênteses.)

Como eu ia dizendo, era hora do rush no metrô. Acomodado num assento de costas para a janela, e de frente para todos os outros passageiros – muitos deles, em pé –, um homem aparentando menos de 30 anos abriu uma pasta de zíper e tirou lá de dentro um envelope estreito. Eu tinha feito câmbio num banco dois dias antes, e a funcionária irashaimassé kudassai arigatô gozaimás do banco tinha colocado meu dinheiro num envelope igualzinho – deduzi na hora de que se tratava de um envelope de dinheiro. Eis que o sujeito sentado no metrô na hora do rush tira o envelope de dinheiro da pasta, abre o envelope de dinheiro, tira o dinheiro do envelope e começa a contar o dinheiro fora do envelope. Eu por acaso cheguei a comentar que ele estava sentado no metrô na hora do rush? Pois então. Não era muito dinheiro – eram 6 ou 7 mil yens, 60 ou 70 dólares –, mas mesmo assim não pude deixar de ficar profundamente chocado.

Sabe aquela frase-padrão que a gente lê nos guias, "tome todas as precauções de segurança que você tomaria normalmente numa cidade grande"? Em Tóquio, por favor, não tome nenhuma das precauções de segurança que você tomaria numa cidade grande. Ande o tempo todo com o passaporte (nós tínhamos que andar com os nossos – explico melhor num dos próximos posts). Pendure a sua câmera digital caríssima no pescoço e desfile pela rua. Coloque um bolo de dinheiro no bolso da calça e vá em frente. O único perigo que você corre é perder uma dessas coisas na rua e não achar nunca mais.
Ainda emocionada com a visita ilustre ao meu humilde blógue nonsense, reproduzo um dos últimos posts dele. Vai lá!