quinta-feira, março 17, 2005

Vai escrever bem assim lá em casa

Saudade de Elis

Se cantasse em outro idioma - inglês, por exemplo - Elis Regina Carvalho Costa não teria sido apenas a maior cantora brasileira - e, sim, a maior cantora do planeta. Essa certeza começava por ela. Quando foi assinar um dos primeiros contratos - com menos de 20 anos - deixou o produtor atônito com o cachê exigido, justificando que pedia aquilo porque cantava melhor do que Barbra Streisand.

Afinada, inspirada e com um talento inato para se cercar dos melhores músicos, Elis revolucionou a história do moderno canto brasileiro numa dimensão só comparável a João Gilberto. Não é pouco para um país que já tinha Elizeth Cardoso como um referencial e que na mesma época do aparecimento de Elis viu surgir também Nana Caymmi, Gal Costa, Maria Bethânia e Nara Leão.

Descobridora e/ou alavanca de algumas das principais carreiras musicais, Elis foi a responsável pelo lançamento de João Bosco e Aldir Blanc, Ivan Lins, Edu Lobo, Gil e Belchior. Deu a Tom Jobim a mais elevada interpretação que seu songbook já mereceu e, em menos de duas décadas de carreira, foi responsável por interpretações insuperáveis em canções como Atrás da Porta, de Chico Buarque, Como Nossos Pais, de Belchior, e Dois pra Lá, Dois pra Cá, de João Bosco e Aldir Blanc.

Muitas vezes rotulada como explosiva e temperamental, a cantora é lembrada pelos amigos pela generosidade e pela capacidade em descobrir novos caminhos musicais. E, 23 anos depois de sua morte, Elis ainda deixa saudade.


Márcio Pinheiro